BRASIL o país que não da oportunidade


Sou de São Paulo Capital, mas um brasileiro como milhares, com meus sonhos, desejos e objetivos.

A exatamente 17 anos atrás, tomei a decisão de viver da montanha e para montanha , o montanhismo  entrou na minha vida e eu sabia que eu era da montanha.

Durante anos a fio eu respire o ar da montanha, até mesmo e muito mais quando eu estava enfiado nesta cidade caos que é SP, tudo que eu fazia estava ligado a isso, esta no meu sangue.

Com 22 anos já meio velho na época (eu pensava) para estar começando na vida de montanhista, trabalhava só para juntar dinheiro para equipamentos e viagens, mal comia com meu dinheiro, pois todo ele já tinha um destino. Graças a Deus na época tinha meu pai e minha mãe em casa para me ajudar. (comer, dormir etc)

Pensava, vou viver do que amo e minha felicidade escorria de tanta que era, comecei com um site Natureza Pura.com onde relatava minhas viagens e tentava levar poucos clientes para onde eu já conhecia, trabalhando como guia.

Depois de inúmeras viagens pelos Andes e já alguma bagagem, tive um ginásio de escalada indoor, e pensava vai arrebentar, pois somos só 3 em São Paulo, 90 graus, Casa de Pedra Morumbi e Climbing. Junto com o ginásio comecei a levar gente para Bolívia, Peru, Chile como guia e ministrar cursos de rocha aqui de gelo nos Andes.

Foram longos anos de trabalho de segunda a segunda, mas eu estava fazendo o que amava, mas o Brasil, (país do futebol), e por não ter cultura de montanha, já não estava valendo a pena trabalhar tanto por quase nada, fechei o ginásio e continuei com as viagens e cursos.

E de lá para cá a luta foi árdua e sem o retorno esperado e merecido, o número de roteiros triplicaram, cheguei a ter 90 roteiros de montanha para oferecer, por preços irrisórios para incentivar o montanhismo e a escalada, mas nem assim. Operava Bolívia, Peru, Chile, Argentina e Brasil tinha roteiro para todos os gostos, técnicas, estilos e tempo disponível, mas não andava como deveria.

Viver do trabalho que se gosta, num pais como o nosso é para poucos, temos que viver fazendo o que não gostamos para ter uma miséria de dinheiro no fim do mês para fazer o que amamos e isso que não sobra dinheiro nem tempo.

Hoje olho para traz e vejo que todo meu suor de 17 anos, tentando viver do que mais amo foi em vão, agradeço pela experiência, pelo conhecimento e contatos que tive em todos estes anos, mas foi em vão tanto esforço em um país que não te abre as portas, pelo contrario te corta as assas. Um país que não incentiva o esporte nem seus jovens.

Em outros países tive reconhecimento em praça publica, pelo prefeito, pela abertura de uma via de escalada. Já fui pago pelo governo Estadual para dar curso de escalada em rocha a grupos de jovens guias.

E aqui no BRASIL???? NADA

Em todos estes anos tentei patrocinadores NACIONAIS, Governo do Estado, prefeitura etc... centenas de tentativas, para muitas e muitas coisas inéditas que nunca tinha sido realizada por ninguém, lugares novos, montanhas virgens, mas não abriram as portas.

Este ano 2013 comecei uma parceria com a Botas Snake, depois de anos, foi o único que enxergou o propósito e a seriedade de meu trabalho, e os agradeço muito.

Aos poucos brasileiros que conseguem viver exclusivamente do montanhismo aqui neste país, os parabenizo, pois dão o sangue para conseguirem isso e mal são reconhecidos e remunerados por levar o nome do Brasil para fora, e mostrar que aqui também existe profissionais e dos bons, fazendo coisa de gente grande.

Durante anos levei na minha mochila de ataque, minha bandeira do Brasil, e desde 2006, esta bandeira fica guardada junto com meus equipamentos, nunca mais esteve na minha mochila, pois não tenho nada que homenagear ao Brasil ou mostrar gratidão. Escalo pelos meus esforços e para mim.
A bandeira que gostaria de abrir nos cumes é a da indignação e tristeza por ser brasileiro e não poder viver do que mais amo e do que melhor sei fazer.

Leonardo Mangano, ultimas fotos com a bandeira do Brasil em 2006 - Guiando grupo na Cordilheira Real